GALEANO, Eduardo. Fechado por motivo de futebol. Porto Alegre: L&PM, 2018.

O escritor uruguaio Eduardo Galeano queria ser o jogador Eduardo Galeano. Em seus sonhos, ele era o melhor. Acordado, um desastre. Sorte nossa. Ganhamos no traçado de sua escrita e na expresão de suas palavras, a plasticidade de Pelé, a irreverência de Higuita e a criatividade de Maradona. Ganhamos a força e a garra de Obdulio, o capitão do Maracanazo, para alimentar o sonho de vitória frente aos mais poderosos.
“Fechado por motivo de futebol” teve a primeira publicação em 2017, quando Galeano já havia nos deixado. Aqui encontramos alguns textos de “Futebol ao sol e à sombra”, entre outros e uma entrevista. Uma seleção de refllexões sobre a realidade, pois o futebol é “espelho do mundo”. Ou mais que isso, o futebol é um “dado fundamental da cultura”.
Em muitos textos curtos e curtíssimos, o futebol é o pano de fundo para causos e histórias do “combate entre os indignos e os indignados”. Entre intelectuais, Galeano jogou em campo hostil, ouvindo gritos de detratores do futebol: ópio do povo! manipulação! negócios! Com visão do jogo dos poderes e da sociedade, o uruguaio driblava os “ideólogos que amam a humanidade, mas desprezam as pessoas”.
O futebol é “expressão de uma identidade coletiva”, uma paixão que “se transforma em festa compartilhada ou compartilhado naufrágio”. Em tempos de globalização do mundo pela submissão ao mercado, é o futebol que pode nos recordar que “o melhor do mundo está na quantidade de mundo que o mundo contém”. A bola segue sendo espaço onde povos, destroçados pelo colonialismo e pelo neoliberalismo, afirmam seu orgulho “de existir e de ser” e enxergam no “êxito de heróis solitários” uma “esperança coletiva”.
O futebol, nos diz Galeano, é uma “religião sem ateus”. Sou devoto confesso.
Lucas Menezes Fonseca