“MEU PARTIDO É O BRASIL” …MAS DE QUAL BRASIL VOCÊ TOMA PARTIDO?
Você toma partido pela produção do campo. Porém, de qual? Você toma partido pelo latifúndio, a monocultura e as condições análogas à escravidão que abundam no campo brasileiro? Ou você toma partido pela agricultura familiar, a produção orgânica e ecologicamente sustentável e os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo? Você toma partido pelas terras improdutivas e para especulação financeira ou você toma partido pelas famílias camponesas que são empurradas para viverem precariamente nas periferias das cidades? Você toma partido por um modelo de agronegócio e pecuária que destrói a biodiversidade e ameaça povos ribeirinhos, quilombolas e indígenas? Ou toma partido pelo respeito ao meio ambiente e a biodiversidade, a memória e a cultura de povos tradicionais?
Você toma partido pelo crescimento econômico. Você toma partido por um crescimento econômico lastreado em produção industrial com desenvolvimento em ciência e tecnologia e associados as demandas e necessidades populares com soberania? Ou você toma partido por um crescimento econômico que submete o Brasil na divisão internacional do trabalho a ser plataforma de exportação de bens primários e de ter que importar tecnologia? Você toma partido por um país que associe desenvolvimento econômico com bem-estar social ou você toma partido por um Brasil paraíso de banqueiros e especuladores improdutivos e usurpadores?
Você toma partido pela geração de empregos. Será aumentando a insegurança do trabalhador com a ampliação dos contratos terceirizados e de curta duração? Ou você toma partido por uma política de emprego que dê maior estabilidade e segurança contratual ao trabalhador/a? Você toma partido pela maior participação da massa salarial no PIB brasileiro ou você toma partido pelo rebaixamento ainda maior do preço da força de trabalho? No Brasil que você toma partido, os direitos trabalhistas cabem no seu cálculo econômico?
Você toma partido pela redução de impostos. Você toma partido por uma lógica de imposto que sufoca o bolso dos mais pobres ao incidir sobre o consumo, ou você toma partido por um imposto progressivo, para aliviar os mais pobres e cobrar daqueles que esbanjam grandes fortunas? Você toma partido contra as empresas que, mesmo se beneficiando de um sem número de serviços e obras públicas, sonegam fortunas em impostos? Ou você toma partido pelo discurso empresarial contra os impostos para estes abocanharem ainda mais a riqueza socialmente construída?
Você toma partido pela educação e pela saúde. Você toma partido por uma educação controlada por conglomerados educacionais associados ao mercado financeiro que transformam escolas e faculdades em mero negócio? Ou você toma partido por uma educação que, atrelada ao desenvolvimento social e um projeto soberano de país, oportunize uma formação completa e com autonomia crítica para as filhas e os filhos do povo? Você toma partido pelas políticas de saúde que nos empurram para os planos de saúde privados e seus abusos? Ou você toma partido contra as políticas que resultam na falta de profissionais e materiais em hospitais e postos de saúde, adoecendo quem neles trabalham e humilhando quem deles precisam? Você toma partido por políticas de “ajuste fiscal” que corta na saúde e na educação e aperta no bolso e na vida dos mais pobres? Pra você, saúde e educação é um mero cálculo econômico?
Você toma partido pela paz e pela segurança. Você toma partido por políticas de encarceramento em massa – que atinge e estigmatiza a população negra e periférica – em detrimento de ações afirmativas, inclusivas e ressocializadoras? Você toma partido pelas crianças socializadas em todo tipo de violência e que veem seus pais serem presos? Ou você só esbraveja contra o que chama de “bolsa presidiário”? Você toma partido por estímulo a prática de esporte, lazer e acesso aos bens culturais? A paz que você deseja é a dos cemitérios?
Você toma partido pela família, mas de qual? Você toma partido pelas crianças sem registro de pai por abandono? Você toma partido contra a violência sexual às crianças que ocorre principalmente nos lares familiares? Você toma partido contra a violência doméstica que humilha e mata milhares de mulheres todos os anos? A família que você toma partido têm amor, compreensão e empatia ou é de autoritarismo, violência e silenciamento?
Você toma partido pelos brasileiros. De quais brasileiros? Dos 5 bilionários que detêm o equivalente a riqueza dos 50% mais pobres do país? Você toma partido contra os privilégios. Mas o que você chama de privilégio? Ações afirmativas e direitos sociais, previdenciários e trabalhistas? Você toma partido por um Brasil marcado pelas hierarquias de classe, racial, de gênero e sexualidade que se tornam naturalizadas na falsa ideia de “meritocracia” e noções similares? Você toma partido por um Brasil em que a cor da pele signifique lugar e condições de moradia, emprego e vida? Você toma partido por um Brasil secularmente estratificado entre casa-grande e senzala?
Seu partido é o Brasil, mas é preciso dizer de que Brasil você fala. De qual Brasil você toma partido? Essa pergunta é a mais importante a ser feita e dela saem várias outras. Afinal, todos nós tomamos partido, mas é preciso saber: que partido tomamos?
Lucas Menezes Fonseca